Joaquim José da Silva Xavier, o “Tiradentes”, foi entre outras coisas dentista, mas foi como militar que trabalhou a maior parte de sua vida. Ele fez parte da cavalaria de Dragões Reais de Minas, no posto de
alferes – uma patente abaixo da de tenente. Os Dragões eram uma companhia
militar formada por portugueses e brasileiros que estava submetida à autoridade
da Coroa lusitana e atuava na Colônia.
O posto militar de Tiradentes lhe permitiu ter algumas
posses, como terras e escravos, e transitar entre as principais lideranças
políticas e intelectuais da Capitania de Minas, à época insatisfeitas com a
arbitrariedade da Coroa portuguesa. O ponto mais discutido com relação a essa
arbitrariedade era a questão da cobrança de impostos sobre o outro extraído em
Minas. À coroa os mineiros tinham de repassar o chamado quinto, isto é, cerca
de 20% do que era produzido. A partir da década de 1760, a produção de ouro diminuiu na Capitania de Minas, mas o quinto continuou sendo cobrado na mesma
proporção.
Dada a escassez de ouro, a cobrança do quinto não mais satisfazia
as necessidades dos lusitanos. Como solução a esse problema, a Corte portuguesa
autorizou os governadores da Capitania de Minas a cobrarem a derrama, uma forma
de imposto que compensava o deficit do quinto. Não havendo o cumprimento do
saldo do quinto, cobrava-se o restante deficitário com tributos sobre outras
posses que os mineiros tivessem. Quaisquer bens estavam sujeitos à imposição da
derrama.
O ponto alto da crise relativa à tributação exigida pela
Coroa portuguesa na Capitania de Minas ocorreu entre os anos de 1788 e 1789, no
período do governo do Visconde de Barbacena. Foi nessa época que Tiradentes e
outras pessoas, entre elas intelectuais, mineiros, militares, religiosos e
poetas (como Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga), organizaram uma
conspiração contra o governo de Barbacena. Apesar de esses homens, como o
próprio Tiradentes, terem recebido influência do pensamento iluminista do
século XVIII, o objetivo principal da conspiração não era exatamente formar um
novo Estado, guiado pelos ideais que nortearam a Revolução Francesa (ocorrida
no mesmo ano, em 1789). O objetivo principal era livrar-se da pressão econômica
lusitana, encarnada na pessoa dos governadores da Capitania. Essa conspiração
ficou conhecida como Inconfidência Mineira. Tiradentes foi considerado o mais
radical entre os inconfidentes, tendo inclusive elaborado um plano para matar o
governador Visconde de Barbacena.
A conspiração, contudo, não foi levada adiante. Um dos
membros da trama, José Silvério dos Reis, deletou os demais, acreditando ter,
no futuro, suas dívidas perdoadas pela Coroa. A delação fez com que Visconde de
Barbacena desmantelasse toda a conspiração e prendesse todos os envolvidos. A
maior parte dos inconfidentes não assumiu a culpa para evitar penas mais duras.
Os poetas Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa, por exemplo, foram
degredados (exilados forçadamente) para a África. O único que reconheceu ser
conspirador e assumiu a responsabilidade por toda a trama foi Tiradentes.
Por ser militar (que devia obediência à Coroa) e por ter
assumido a culpa, a pena dada a Tiradentes foi a mais cruel. Depois de três
anos preso, o alferes, no dia 21 de abril de 1792, foi enforcado, decapitado e
esquartejado. Para que os súditos da Coroa nunca se esquecessem da lição, a
cabeça de Tiradentes foi encravada num estaca e exposta em praça pública em
Vila Rica, e seus membros, espalhados pela estrada que levava ao Rio de
Janeiro.”
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