quarta-feira, 9 de agosto de 2017

09 de agosto – No dia Internacional dos Povos Indígenas, vamos falar de suas doenças

    A Organização das Nações Unidas (ONU) criou, em 1995, o Dia Internacional dos Povos Indígenas, visando garantir autodeterminação e os direitos humanos às diversas etnias indígenas do planeta, principalmente sobre as condições de vida, preservação da cultura, e atenção à saúde.
    E, no que tange à atenção à saúde, esses povos são os mais violentados do mundo. Aqui no Brasil, por exemplo, uma pesquisa feita pela Professora Luana Padua Soares, em sua tese de doutorado para o curso de Nutrição da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), mostrou que o consumo de alimentos industrializados, principalmente refrigerantes, e o sedentarismo, têm causado um aumento expressivo nos casos de Síndrome Metabólica entre os índios xavantes no Mato Grosso.
    Os dados da doutora mostram que 66,1% destes índios apresentaram Síndrome Metabólica. E entre as mulheres a incidência desta Síndrome chega a 76,2% (contra 55,6% dos homens). Como consequência, segundo a pesquisadora,  os xavantes apresentam elevados níveis de mortalidade (11,4 óbitos por mil habitantes), especialmente no primeiro ano de vida (96,7 óbitos de crianças menores de 1 ano por mil nascidos vivos). A expectativa de vida era aproximadamente 61,7 anos, ou seja, próximo do valor médio encontrado para o Brasil 27 anos atrás.
      Dados semelhantes foram encontrados entre os Kaingangs e Guaranis, no Rio Grande do Sul: 65,3%; 21,9% entre os índios Suyá e 27,8% entre os Khisêdjê, ambos do Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso; e 35,7% entre indígenas das aldeias Jaguapiru, em Dourados, Mato Grosso do Sul.
    Outra pesquisa, feita no Parque Nacional do Xingu, coordenada pela professora do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) – Campus São Paulo, e do programa de pós-graduação em Saúde Coletiva, Suely Godoy Agostinho Gimeno, mostrou que apesar de as doenças infecciosas e parasitárias ainda serem o motivo de várias mortes entre a população indígena daquela região, é a prevalência cada vez maior de doenças crônicas como hipertensão arterial e diabetes mellitus que mais preocupam.
    Segundo os dados, 10,3% dos indígenas, tanto do sexo masculino quanto do feminino, apresentavam sintomas de hipertensão arterial. A intolerância à glicose foi observada em 30,5% das mulheres – quase 7% com diabetes mellitus – e em 17% dos homens. A dislipidemia (presença excessiva ou anormal de colesterol e triglicerídeos no sangue) foi detectada em 84,4% dos participantes da pesquisa. Por fim, constatou-se que 57% dos homens e 36% das mulheres sofria com excesso de peso. Já a obesidade central (acúmulo de gordura na parte superior do corpo) predominou entre as indígenas com 68%.
      E não é só o consumo de alimentos industrializados que tem afetado estes povos. Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) a baixa qualidade de atenção médica resulta em inúmeros problemas. Cerca de 50% das mulheres indígenas sofrem de anemia grave e, entre as crianças, esse número chega a 66% na região Norte do país. Além disso, 15,7% das mulheres indígenas são obesas e 30,2% delas apresentam sobrepeso. Foram encontradas, também, prevalências de nanismo nutricional na ordem de 41% na região Norte e 26% no Centro-Oeste.
    Isso, sem falar da miséria, do alcoolismo, da violência resultante desta mistura, e dos casos de suicídio que em algumas regiões da Amazônia são tradados como pandemia. Estudos feitos a partir de dados do Ministério da Saúde mostram que as condições sub-humanas de vida, o racismo e a discriminação sofrida, tem levado cada vez mais jovens índios (na faixa dos 10 aos 29 anos) a se matarem. A taxa de suicídios entre indígenas por grupo de 100 mil é de 13,6 no Mato Grosso do Sul e 11,9 no Amazonas. Entre os brasileiros não indígenas a taxa (que já é alarmante) é de 5,6 suicídios, para cada 100 mil habitantes.

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